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Como tratar água em ambientes outdoor

novembro 24, 2021
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Tempo de leitura 13 min
A água é uma necessidade básica para o ser humano. Descubra como saciar sua sede sem abrir mão da segurança em ambientes outdoor.

A escolha do local para coletar água é primordial para diminuir a chance de contaminações. Isso significa que entre rios, córregos, cachoeiras ou nascentes podemos escolher o curso d’água que apresenta um menor risco de transmitir doenças de veiculação hídrica.

Se você vai beber ou cozinhar em ambientes outdoor, a primeira opção para encontrar água possivelmente potável são as nascentes d’água. Elas são um afloramento de água subterrânea, ou seja, água de aquífero, que é a fonte mais protegida que existe. Há a chance de estar contaminada, porém é baixa.

Na sequência, sua opção deverá ser coletar água de pequenos córregos, pois eles são uma sequência do curso das nascentes. Quanto mais estreito for o córrego, significa que mais perto da nascente ele está. Do contrário, quanto mais largo for este córrego, significa que já percorreu alguns quilômetros na superfície da terra, recebendo contaminações.

Esse pensamento deverá ser aplicado em nossa última opção, que são as cachoeiras e rios. Estes cursos d’água já percorreram longos caminhos na superfície. Assim sendo, a chance de terem recebido contaminação química e microbiológica é alta. O risco aumenta principalmente se o rio recebeu dejetos de esgoto tratado (ou às vezes não-tratado). Por último, vale ressaltar que não é possível deduzir esta informação apenas observando o rio.


Água escolhida, vamos tratar!

Toda água doce é passível de ser tratada e consumida. Porém, em ambiente outdoor, isso vai depender do arsenal de equipamentos que você possui.

Pastilha de cloro – mocinha ou vilã?

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Você sabia que o cloro vem do sal de cozinha? Isso mesmo: o cloro é extraído do Cloreto de Sódio (NaCl) e por isso é tão barato. Esse método é muito eficiente para matar bactérias e vírus , podendo ser usado após a filtração da água. Se você ler atentamente as instruções de um rótulo de pastilhas de cloro, verá a recomendação de filtrar antes de clorar. Portanto, tome isso como regra e não coloque cloro diretamente em águas sujas ou com matéria orgânica em suspensão. A combinação desses componentes cria substâncias como os trihalometanos, que são compostos cancerígenos vindos da junção cloro + matéria orgânica.

Desvantagens do uso do cloro

Em primeiro lugar, o cloro não mata formas resistentes (cistos e oocistos) de protozoários. Saiba que utilizando esse tipo de tratamento de água você estará livre de bactérias e vírus, porém ainda poderá adquirir giardíase e criptosporidiose; duas doenças que causam fortes dores abdominais, diarreia e febre. Em síntese, esses dois patógenos são resistentes ao cloro e considerados altamente infecciosos. Dificilmente seu corpo vai conseguir combater a doença sozinho. Além disso, após a utilização do cloro as bactérias e os vírus estarão inativos. Como resultado, você ainda vai consumir todos eles pois o cloro não é um filtro.

O cloro também não elimina metais pesados ou qualquer outra contaminação química. Além disso, deixa um gosto ruim na água e uma aparência estranha. Outra desvantagem é o tempo de ação desse produto. Assim, se estiver com muita sede, terá que esperar 30 minutos para beber a água que foi tratada.

Qual a solução ideal para o uso de cloro?

A mais difícil e demorada: filtrar – clorar – filtrar.

Está morrendo de sede numa selva e só tem a pastilha de cloro? Então coloque na água e tome. Apenas não use esse procedimento como rotina.


Água sanitária do armário da lavanderia? Sim, essa mesma!

O hipoclorito de sódio em forma líquida, na concentração de 2 a 2,5%, é popularmente conhecido como água sanitária e tem diversas marcas comerciais (Qboa por exemplo). Este produto funciona exatamente da mesma forma que as pastilhas de cloro, com a vantagem de ser muito mais barato. Além disso, você pode levá-lo em um frasquinho de colírio, o que já vai ajudar na dosagem certa.

Qual a dosagem do hipoclorito de sódio?

Bastam 2 gotas de hipoclorito para cada 1 litro de água para matar bactérias e vírus. Esse tratamento também poderá ser usado para armazenar água potável por 5 anos. Vou explicar como realizar esse procedimento no final do artigo.


Fervura da água: esse método é eficiente?

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A fervura por 5 minutos após a água atingir 100 °C é altamente eficiente, sendo mais eficaz que o cloro. Nesse método você consegue matar as bactérias, vírus e os protozoários, mesmo as formas resistentes. Vale lembrar que a pré-filtragem também é necessária para eliminar terra e matéria orgânica.

Desvantagens da fervura

Primeiramente, para realizar a fervura você precisa parar tudo e montar um fogareiro. Além disso, se a água conter metais pesados ou outros contaminantes químicos, não sabemos que tipo de reação poderá ocorrer com a fervura.

Qual a solução ideal para o uso da fervura?

Coletar água prioritariamente de nascentes e ferver, pois a chance de contaminações químicas é mais baixa. Do mesmo modo, outras fontes de água devem ser filtradas antes do processo da fervura.


Carvão ativado: posso pegar o carvão do churrasco?

O carvão ativado é o elemento filtrante mais utilizado em todo o mundo para tratamento de água. Sua aparência é de uma esponja sólida, porosa e preta. Ele é 100x mais poroso que um carvão normal e pode ser fabricado com a utilização de materiais vegetais e também com ossos bovinos.

Antes de tudo: não adianta tentar fabricar o carvão ativado em casa, utilizando carvão da churrasqueira ou lenha da lareira. Para “ativar” o carvão e formar a porosidade correta é necessário uma alta temperatura, acima de 1000 °C. Além disso, é preciso parar o processo no momento certo – do contrário o máximo que você vai fabricar é pasta de carvão comestível.

O carvão ativado tem as seguintes funções:

  • adsorção (atração de átomos) de metais pesados presentes na água,
  • redução de cloro, cloraminas e trihalometanos,
  • redução de fármacos e pesticidas,
  • redução (porém com baixa eficiência) de flúor,
  • redução de cor, odor e sabor,
  • redução de taninos, fenóis e sulfatos de hidrogênio.

O carvão ativado também permite a passagem dos sais minerais benéficos à saúde. Além disso, é ecológico e de ação imediata. Se comparado com os outros métodos descritos nessa matéria, é o único que consegue reduzir contaminações químicas, deixando a água com um gosto muito bom.

Antes de mais nada, todo filtro com carvão ativado deve estar impregnado com prata coloidal, pois essa substância vai impedir a auto contaminação do filtro. Logo, se a prata não estiver presente, o carvão não vai durar muito tempo e será contaminado facilmente com a multiplicação de patógenos de veiculação hídrica.

Desvantagens do uso do carvão ativado

Por ter uma alta eficiência, o carvão ativado apresenta vida útil curta. Embora a prata coloidal prolongue seu uso, os poros ficam saturados após aproximadamente 1 ano e ele deve ser trocado. Sinceramente, não considero isso uma desvantagem pois é mais desejável ter uma alta eficiência durante um ano ao invés de uma baixa eficiência por mais tempo. Como resultado, o carvão ativado é uma excelente escolha para tratamento de água, tanto em ambientes outdoor quanto para uso doméstico, quando utilizamos a água do sistema público de distribuição.

Qual a solução ideal para o uso do carvão ativado?

Realizar as retrolavagens periódicas indicadas para o filtro e associar com o uso de um filtro físico como, por exemplo, o filtro de cerâmica ou os filtros físicos de membrana que falaremos a seguir.


Membranas de filtragem: pequenos poros que retém contaminantes

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As membranas de 0,01 μm (mícron), 0,1 μm, 1 μm ou até 15 μm são filtros físicos utilizadas para reter partículas em suspensão maiores que esses tamanhos de poros. Quanto maior o poro, mais sujeiras e contaminantes vão passar. Assim sendo, quanto menor o poro mais eficiente é o filtro, porém mais difícil fica a passagem de água.

Quais os tipos de filtração de água?

O filtro de barro, utilizado na maioria das casas brasileiras, faz seu trabalho através da passagem da água por gravidade. Isso significa que seus poros são “grandes”, pois a água passa livremente por eles. Essa é uma filtração convencional.

Enquanto isso, os filtros portáteis utilizados em garrafas contêm membranas de 0,01 μm ou 0,1 μm e só permitem a passagem da água através da sucção, ou seja, sua boca funciona como uma bomba d’água, auxiliando a passagem da água e assim filtrando os contaminantes. Essa é uma ultrafiltração.

Acima disso temos os processos de nanofiltração e osmose reversa, que não são passíveis de serem utilizados em ambientes outdoor por necessitarem de grandes equipamentos e energia elétrica.

Quais os benefícios das membranas de filtragem?

Os  filtros portáteis à base de membranas utilizados em garrafas (Stone Water, por exemplo) ou filtros avulsos (como os da Sawyer) têm vida útil de aproximadamente 360.000 litros de água, tornando seu uso quase eterno. Apresentam alta redução da turbidez da água, tornando transparente uma água barrenta. Possuem também a vantagem de permitir a passagem de todos os sais minerais benéficos à saúde. Além disso, conseguem filtrar 99,9% dos patógenos de veiculação hídrica, retendo a maioria das bactérias, protozoários e alguns vírus, como o HAV (vírus da Hepatite A) por exemplo, que tem tamanho de 0,032 μm. Essas membranas só não conseguem reter 100% dos vírus pois a maioria deles tem tamanhos menores que 0,01 μm.

Qual a solução perfeita para o uso de membranas?

A associação com o carvão ativado! Assim, elas conseguem reduzir metais pesados e todos os outros contaminantes químicos citados anteriormente. Vale lembrar que essas membranas podem se auto contaminar facilmente ao filtrar os patógenos se não estiverem associadas com a prata coloidal presente no carvão ativado.

Para matar 100% dos vírus: cloro neles! Sempre na sequência: filtrar – clorar – filtrar. Ou temos mais duas opções: luz ultravioleta e ozônio, que falaremos a seguir.


Canetas com luz ultravioleta: para você levar no bolso

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A luz germicida UV altera o DNA das bactérias e vírus até que eles não sejam mais capazes de se reproduzir. Dessa maneira, os microrganismos se tornam inofensivos. O método é simples e livre de componentes químicos, eliminando bactérias, vírus e outros agentes patogênicos. Assim sendo, pode ser aplicado na desinfecção de água em âmbito público, industrial, doméstico e mais recentemente, em aplicações portáteis. Do tamanho de uma caneta, serve para tratamento de porções de água para consumo individual em ambientes outdoor.

A luz UV não apresenta o risco de formação de trihalometanos e não altera sabor ou odor da água. Do mesmo modo, é ecológico e tem ação imediata. Também não deixa subprodutos vindos de sua reação com os contaminantes, como acontece com o cloro.

Desvantagens do uso da luz UV

Não elimina metais pesados, pesticidas, fármacos ou qualquer outro composto químico. Em suma, a luz UV pode ser comparada com o cloro em sua finalidade de uso. Exige a troca anual das lâmpadas, portanto, tem uma vida útil que pode ser comparada à do carvão ativado.


Ozônio: o gás esterilizante

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O gás ozônio interfere no metabolismo das células bacterianas. Uma quantidade suficiente de ozônio quebra a membrana celular, levando à destruição da bactéria. Acaba também com os vírus e apresenta grande potencial para destruição das formas resistentes de protozoários. Em conclusão, apresenta a mesma finalidade de uso do cloro e da luz UV.

O ozônio é utilizado em piscinas, aquários, poços, uso doméstico, para esterilização de alimentos e vegetais, cicatrização de feridas e descontaminação do ar. Ele foi citado por ser um desinfetante no tratamento de água, porém não falaremos muito do ozônio aqui. Esse método não tem como ser utilizado em ambientes outdoor, por necessitar de equipamento elétrico robusto e não-condizente em situações de sobrevivência na selva e acampamentos.


Sobrevivência: como armazenar água potável por 5 anos

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Utilizado em diversos países para armazenar água em bunkers (abrigos subterrâneos), esse método foi inventado por militares e permite armazenar o líquido em situações de emergência. As embalagens que poderão ser usadas para esse procedimento são galões de plástico (livres de BPA) ou de vidro. Primeiramente, a água utilizada precisa ser filtrada mas não pode ser água filtrada de osmose reversa (sem sais minerais). Também não pode vir direto da torneira sem filtrar, pois poderá ter a presença de outros contaminantes.

Manual passo a passo de armazenamento d’água

Você irá precisar de água filtrada ou ultrafiltrada na qual ainda permaneçam os sais minerais. Para isso, utilize filtros físicos e/ou de carvão ativado citados anteriormente. Após filtrar e colocar o líquido nos galões, acrescente exatamente 2 gotas de hipoclorito de sódio com concentração de 2 a 2,5% para cada litro de água. Não encha totalmente os recipientes. Deixe um espaço de ar, feche bem e identifique a data do armazenamento com uma etiqueta. Então, armazene em local sem incidência de luz solar, para não correr o risco de uma possível fotossíntese. Uma vez ao ano você precisará mexer essas garrafas. Agite-as levemente, para que o hipoclorito continue agindo em contato com todo o conteúdo.

Esses recipientes poderão ser guardados por 5 anos. Quando for beber, abra a embalagem, espere 10 minutos e pronto, você tem água potável e segura para consumo. Por que essa água não pode ser armazenada por mais tempo? Simplesmente porquê o experimento foi estudado apenas por 5 anos.

O assunto água é infinito, sendo muito gratificante escrever sobre esse tema. Essa matéria foi escrita com muito entusiasmo e satisfação exclusivamente para os leitores da Crosster, no intuito de contribuir com um pouco de conhecimento sobre como tratar água em ambientes outdoor. A reprodução desse texto ou partes dele é proibida sem citar a fonte e autoria.

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