Cutelaria

Canivetes Táticos – Suas origens, características e funções

outubro 29, 2021
Canivete CRKT Seismic - Design do cuteleiro Flavio Ikoma
Tempo de leitura 7 min
Canivete CRKT Seismic – Design do cuteleiro Flavio Ikoma

Durante quase toda minha vida, eu tenho o hábito de levar comigo, sempre, um canivete de bolso. Eu me lembro com bastante nitidez, em 1982, quando recebi de presente minha primeira lâmina, um canivete modelo pica fumo simples, com cabo preto e de fabricação local. Surgiu nesse dia uma paixão por essas pequenas lâminas que segue comigo até hoje.

Desde então, inúmeros outros tipos e modelos das mais diversas marcas, me acompanharam diariamente, enquanto o entusiasmo por esses pequenos objetos crescia em minha vida.

Contudo, foi apenas já na fase adulta, que vim a ter contato com lâminas que poderiam se tornar fixas, em modelos e conceitos que eram relativamente novos para mim. Isso me chamou bastante a atenção, pois era a primeira vez que via a possibilidade de um canivete ser usado como uma arma de defesa, levando-se em conta que os modelos anteriores sem trava, apresentavam a grande probabilidade da lâmina se fechar durante uma luta, podendo, assim, causar acidentes e ferimentos ao seu usuário.

Essa capacidade de travar a lâmina na posição aberta, tal qual uma faca foi o primeiro passo na transformação dos canivetes tradicionais para canivetes táticos. Posteriormente, novas características e mudanças apareceram em várias marcas e modelos, que, de acordo com os especialistas, acabaram por determinar todas as principais características de um canivete tático, bem como suas funções e utilidades.


1963 – Buck 110

O conceito de uma lâmina dobrável que pudesse ser travada e se tornar fixa, não é algo recente na história dos canivetes de bolso e remonta aos primeiros modelos da francesa Opinel e da portuguesa Martins Palaçoulo, cuja trava se dava pelo uso de um aro de metal (lock ring), que podia ser torcido e fixado entre a lâmina e o local de sua dobra no cabo.

Porém, foi o modelo 110 da empresa americana Buck, que introduziu o sistema de trava que se popularizou e levou aos canivetes táticos atuais. Uma pequena barra de tensão com acionamento sobre o dorso do cabo (lockback) garante o seu travamento, possibilitando seu uso como um último recurso de defesa. Tal característica acabou por tornar o modelo popular entre algumas tropas e integrantes do exército americano durante a guerra do Vietnã.

Canivete Buck Crosster


1990 – Spyderco

Apesar de vários modelos e marcas posteriores apresentarem esse mesmo sistema de travamento de lâmina, tais canivetes ainda necessitavam de duas mãos para serem operados com rapidez e segurança. Foi somente na década de 80 que outra empresa americana criou e apresentou ao mundo, novas características que se tornariam essenciais em todos os canivetes táticos que se seguiram: A Spyderco criou uma lâmina que poderia ser aberta usando somente uma mão, utilizando para isso, orifícios nos quais o polegar da mão que segura a lâmina (thumbhole) poderia facilmente desloca-la para a posição de uso, aberta. Para travar a lâmina, esse modelo fazia uso do sistema de trava lockback usado no Buck 110, mas que continuava necessitando do uso das duas mãos para destravar a lâmina e dobrá-la de volta ao cabo. Os orifícios nos canivetes da Spyderco ou os pinos duplos de abertura (thumbstud) usados em outras marcas possibilitavam que esse tipo de canivete fosse utilizado com a mesma facilidade tanto por destros e quanto por canhotos.

Além do acionamento com uma mão só, a Spyderco ainda introduziu o clip de bolso, que permite tais canivetes serem transportados presos ao bolso da calça, facilitando, também, seu acesso e uso.

Canivetes Táticos Spyderco Crosster


Robert Terzuola

Apesar de diversas marcas e modelos hoje apresentarem o travamento, clip de bolso e a possibilidade de se abrir a lâmina com apenas uma mão, foi Robert Terzuola que definiu as principais características e funções de uso dos canivetes táticos atuais. Segundo suas definições, um canivete tático é feito para o dia-a-dia, o tempo todo. Tais ferramentas devem apresentar uma lâmina que pode ser travada, ele deve ser leve, pequeno, com fácil transporte por causa dos clips de bolso e de rápido acesso e uso. Além disso, esses canivetes deveriam ser, também, um último recurso como uma ferramenta de sobrevivência ou defesa pessoal.

Terzuola trabalhou no linerlock, um mecanismo conhecido desde o final do século 19 e posteriormente aperfeiçoado por Michael Walter e que trazia importantes inovações na trava da lâmina, permitindo o uso de apenas uma mão para seu acionamento ou destravamento. Tal característica agradou inúmeros usuários deste tipo de lâmina, quer fossem militares, agentes policiais, civis e colecionadores em geral. Este novo mecanismo fica inserido na parte interna do cabo, o que permite o fácil acesso do polegar para destravar a lâmina. Tal possibilidade de operação de um canivete com apenas uma mão é uma característica que, sem dúvida alguma, representa uma grande melhoria no conceito de lâminas táticas dobráveis.

O papel de Robert Terzouola, neste caso, foi melhorar o mecanismo de Michael Walker, de forma a aumentar drasticamente a força de sua trava e reduzir significativamente as chances de uma falha. Nascia neste momento, aquilo que conhecemos como um canivete tático contemporâneo.

Canivetes Táticos Terzoula


1999 – CRKT

Em 1999, outra inovação trazida pela empresa CRKT, através do canivete modelo M16, melhorou ainda mais o uso e acionamento rápido de canivetes táticos. Trata se do “Flipper tab”, que consiste em uma protuberância que se projeta para a fora da parte superior do cabo quando a lâmina está recolhida e que ao ser pressionado para baixo, faz com que a lâmina se abra e se trave com muito mais velocidade e segurança na operação.

Canivetes Táticos CRKT

Seguindo definições atuais, diversas marcas e modelos, ainda apresentam características secundárias, que variam bastante e vão desde pomos para quebrar vidros ou, ainda, pequenas lâminas estrategicamente colocadas nos cabos, para corte de cintos de segurança, cordame de paraquedas, etc. Alguns possuem acessórios como pederneiras ou outros pequenos itens relacionados à situações de sobrevivência em ambientes naturais hostis, o que torna seu uso ainda mais versátil, mas sempre ligado ao conceito de “um último recurso de sobrevivência ou defesa”.

A possibilidade de transformar uma simples e tradicional ferramenta milenar de corte, em uma ferramenta de sobrevivência e defesa pessoal está diretamente relacionada às características inovadoras, como um sistema eficiente de travamento e destravamento de lâminas que requer apenas uma mão e o transporte discreto do canivete e seu fácil acesso, representado pelos clips de bolso.

Todas essas inovações e conceitos colocam uma distância considerável, entre a definição e uso de um canivete tradicional de minha infância, que requeria o uso das duas mãos para seu manuseio e os canivetes táticos contemporâneos, de operação manual simples que eu utilizo em minha vida adulta.

De uma maneira geral, eu posso afirmar que sempre gostei de conhecer e saber as origens daquilo que eu aprecio e utilizo em minha vida e ao olhar para trás, eu posso compreender melhor toda a riqueza histórica por trás de uma ferramenta tão simples e tão comum em nosso dia-a-dia, como os canivetes táticos.

E para atender a grande demanda de usuários, aficionados por canivetes e colecionadores de lâminas, como sobrevivencialistas, praticantes de bushcraft, militares entre outros, a Crosster oferece uma grande linha de produtos relacionados à cutelaria, tais como facas e canivetes, disponibilizando, inclusive, algumas das marcas e modelos citados neste artigo. Vale a pena conferir e adquirir produtos de qualidade, testados e aprovados por milhares de usuários no mundo todo, ao longo de tantas décadas.

Carregar uma peça dessas nos bolsos é carregar um pedacinho da história e da paixão da humanidade por ferramentas de corte. E essa é uma paixão para toda a vida!


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2 Comentários

  • Responder Alexandre Elias Cosendey novembro 6, 2021 at 4:43 pm

    Parabéns Mestre Giuliano Toniolo! Brilhante texto que, além das informações históricas, me trouxe ótimas lembranças da minha infância e do meu primeiro canivete que também era um pica fumo de cabo preto igual ao que meu pai sempre usava e me foi presenteado por ele…

    • Responder Crosster novembro 8, 2021 at 6:26 pm

      Olá Alexandre, tudo bem?
      Agradecemos o comentário! Ficamos felizes que gostou do texto e que ele lhe trouxe boas memórias 🙂

      Atenciosamente,
      Equipe Crosster
      #SemprePreparado

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